terça-feira, 3 de setembro de 2013

Resenha - Legend de Marie Lu


As distopias, à cada vez mais, vem tomando seu espaço no meio literário, tendo muitos títulos de grande porte no segmento, como a trilogia Jogos Vorazes, o recente Divergente, e por ai vai, indo até clássicos como 1984. Legend de Marie Lu, lançado aqui no Brasil pela Editora Prumo, é uma distopia que já em seu primeiro volume possui uma premissa muito boa e que tende à evoluir nas próximas sequências.

"Decorrem trinta minutos. Não ouso sair da minha vigília. Receio que algo aconteça tão depressa, que passe despercebido por mim, se eu piscar. Meus dedos tamborilam ritmadamente contra o cabo da minha faca."
 Página 17

Legend pode ser considerado um livro curto com suas 250 páginas, mas a história criada por Marie Lu, que já trabalhou como diretora de arte na indústria de video-games, vai mais além. É pouco nos apresentado neste primeiro volume, mas já podemos entender parte dos acontecimentos que levaram a sociedade se tornar assim.

"- Sim, eu estou a par disso - Metias para de falar e olha para mim com o canto do olho - Vi helicópteros sobrevoando a Drake ao meio-dia, então desconfiei que a June talvez estivesse metida nisso.
Foram três helicópteros. Como não podiam escalar a lateral do prédio para me tirar dali, tiveram de me puxar com uma rede." 
Página 21

Após cataclismos acertarem o mundo, como inundações, a América do Norte se tornou a República, um governo superior tendo um líder chamado de Primeiro Eleitor, mas possui uma força antagonista, as Colônias, que ficam ao leste, e estão em constantes ataques contra à República. June Iparis é uma garota prodígio da República, tendo alcançado 1.500/1.500 pontos na Prova, a nota máxima. Seu irmão, Metias, um soldado experiente da República, é o único integrante que restou de sua família, e os dois são muito ligados, além do cão Ollie. Day, por sua vez, vive nos setores pobres de Los Angeles, e é o criminoso mais procurado de toda a República por causa de seus crimes contra o governo, sabotagens de missões e roubo de Notas, como é chamado a moeda real. De uma maneira ligada à verdadeira faceta da República e seus segredos, o caminho de June e Day irão colidir e mudar suas vidas para sempre.

"Não serei autorizada a forçar Day a vir a mim, o que só me deixa uma opção: eu vou ter de ir atrás dele."
Página 73 

Com uma trama simples e que promete muito mais, Marie Lu nos conduz pela história de maneira rápida e frenética, por capítulos diminutos, mudando de perspectiva entre June e Day. Um ponto mais que positivo na história é a narrativa. A autora soube diferenciar bastante à personalidade dos seus personagens, fazer uma separação da realidade de cada um. Day é um criminoso e luta pela sociedade renegada, os mais pobres, e June, uma garota prodígio que só conhece a alta sociedade e o que a República lhes mostra, pensa apenas no futuro promissor do país e a derrota das Colônias e dos Patriotas escondidos pela nação. Quando Day e June se encontram, mesmo não sabendo quem é quem, essas características ficam ainda mais claras, criando um fio de tensão entre os personagens, que nem sonham que um dia se tornarão uma dupla, lutando contra a República.


"Mas no instante em que a nova menina pisa no ringue e vejo sua atitude... concluo que cometi um grande erro. Kaede ataca como um búfalo, como um aríete. E a menina ataca como uma víbora."
Página 92

A história corre, e viramos as páginas com rapidez. Dividido em duas partes - O Menino que Caminha Sob a Luz; A Menina que Estilhaça o Vidro Reluzente - a autora tem uma escrita ágil, muito benfeita em termos de primeira pessoa, delineando o pensamento de seus personagens e a visão deles de forma convincente. Nos é mostrado o suficiente para que prossigamos na história, nunca perdendo a ação que permeia a trama.


"Depois, encosta a cabeça na parede, suspira e fecha os olhos. Eu o observo por um instante, esperando que ele exponha seus olhos brilhantes novamente, mas ele não o faz. Após um tempo, ouço sua respiração se firmar e sua cabeça pender, então sei que ele adormeceu."
Página 114 

A única coisa que me incomodou no livro é que ele é muito curto. Não é um problema, porque a autora foi feliz em não querer encher páginas e mais páginas de saturação. Ela escreveu o suficiente. Mas neste primeiro volume temos a vontade de saber mais sobre a República, sobre o Primeiro Eleitor, as Colônias, o que aconteceu para que a guerra no front acontecesse, quem são os Patriotas rebeldes... Tudo isto está interligando de alguma forma, mas em Legend nos é mostrado pouco, tendo uma luz apenas na praga que assola os setores pobres, um vírus desconhecido, e que à cada ano contamina a população inferior com uma nova variante. Ao desfecho do livro descobrimos quem está por trás disto, e o mistério se sustenta até o final.

"Sinto o sabor de vinho nos lábios dele. Ele me beija suavemente a princípio e depois, como se estivesse querendo mais alguma coisa, ele me empurra contra a parede e me beija com mais força. Seus lábios são quentes e muito macios, seu cabelo roça minha face. Eu tento me concentrar. Esta não é a primeira vez dele, que certamente já beijou outras meninas, e eu diria que muitas meninas."
Página 118

Sobre a edição da Editora Prumo, ela é muito primorosa. O exemplar é leve em nossas mãos e tem um acabamento que mostra dedicação. A insígnia da República - na capa e na contra-capa - e o título brilham, e nas bordas das páginas há um efeito esfumaçado, como se fosse carbono. acho que assim que se fala. A diagramação está benfeita e a divisão dos capítulos por nomes dos personagens principais também, tendo o detalhe da insígnia da República nos capítulos de June. A única coisa que tenho à reclamar é a revisão do livro. Não é nada de anormal, mas encontrei dois ou três erros de português, na maioria, letras comidas na digitação, mas nada que atrapalhe o sentido da leitura.


"Os soldados disparam uma saraivada de balas contra mim. Eu me escondo atrás da chaminé. Fagulhas voam por toda parte. Cerro o dentes e fecho os olhos. Não posso fazer nada nesta situação. Estou impotente."
Página 134 

Em geral, Legend é uma ótima distopia, mesmo não sendo a melhor, mas talvez esse quadro mude nos próximos volumes, Prodigy, já lançado e o último volume, Champion, com publicação prevista para novembro no exterior. Com uma trama frenética, impossível de largar o livro, Legend reforça o segmento distópico.

"- Porque cada dia significa novas 24 horas. Cada dia quer dizer que tudo é possível de novo. Você pode aproveitar cada instante, pode morrer num instante, e tudo se resume a um dia após o outro - Ele olha para a porta aberta do vagão da ferrovia, onde faixas escuras de água cobrem o mundo - E aí você tenta caminhar sob a luz.
Página 253 

***

Ficha do Livro:

Título: Legend - A Verdade se Tornará Lenda (Legend #1)
Autora: Marie Lu
Tradutor: Ebréia de Castro Alves
Editora: Prumo
Páginas: 255










Outras Capas:

   

A Trilogia:

  

14 comentários:

  1. oie Josh
    faz tempos que quero ler essa distopia, mas uma amiga não tinha curtido tanto, então deixei pra lá. mas eu adoro essa agilidade e tensão nos livros, então como seu gosto é muito parecido com o meu tenho certeza que eu vou curtir.
    ótima resenha, como sempre. Adorei você ter inserido as ilustrações que fizeram dos personagens, isso ajuda muito na formulação de como eles seriam na nossa mente.
    bjos

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    Respostas
    1. O problema de Legend é que ele é curtinho, mas a história é totalmente válida e tende à evoluir em Prodigy e Champion. Ah, as ilustrações eu peguei do site da autora, a Marie Lu mesmo que fez :D

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  2. Eu amo as capas da trilogia Legend, e a minha preferida é a de Prodigy, e essa água na capa me lembra a águia dos EUA... mass ainda não li a série, e sua resenha me deixou empolgadíssima!!

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    1. Eu também gosto das capas da série, e assim como você, amo a capa de Prodigy... sabe que eu nunca reparei nisso? Se bem que há uma leve menção aos EUA no livro, como se a República tivesse dito que sempre existiu, mas na verdade é apenas uma mentira. Talvez esse seja o simbolismo da águia :D Leia a série o quanto antes!

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  3. Oi Joshua,
    Alguns amigos meus tem me falado tão bem dessa trilogia, que confesso estou me sentindo tentado a começar a ler, rsrs.
    Eu não li nenhuma dessas séries de distopias contemporâneas, só assisti ao filme de Jogos Vorazes, mas em breve quero ler os livros também.
    Eu gosto dessa abordagem mais política presente nas sinopses dos livros da Marie Lu.
    Abração
    Cooltural

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    1. Legend é uma boa distopia, mas seria bom ler logo Jogos Vorazes e Divergente, que já em seu primeiro volume já são complexos.

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  4. Gostei da resenha!! Não me interessei muito por Legend desde o lançamento, e preferi ler Jogos Vorazes e apelar pros mais clássicos, como 1984.

    Não sei... a ideia não me chama a atenção. Mas quem sabe algum dia eu dê uma chance??

    Um abraço,
    Renato, lá do www.EsteJaLi.com

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  5. Eu não amo Legend, mas estou curiosa a respeito de como a série vai se desenrolar. Só acho que o livro poderia ter, pelo menos, mais umas 50 páginas, para que eu me sentisse mais contextualizada.

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    1. Eu também estou muito curioso em como a Marie Lu vai conduzir a história em Prodigy... e sou de mesma opinião, gostaria muito que Legend tivesse mais páginas, mas explicações sobre a República, os Patriotas e as Colônias, mas espero isso dos próximos volumes.

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  6. Nossa eu amo essas capas que são muito lindas.E fora que tenho uma vontade de tê-las e lê-las.Como você falou as distopias estão cada vez mais tomando o mercado literário. E cada vez mais ela estão fazendo nossas cabeças.Eu sou daquela,que antes,não conseguia ler algo do gênero,mas agora eu sou daquela que não deixa passar uma.
    E estes livros já se encontram em minha lista de desejados,e não vejo a hora de poder ler.

    Parabéns pela resenha!

    Beijokas Ana Zuky

    Blog Sangue com Amor

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  7. Uma das poucas distopias que acho mega inteligente e não cai na mesmice, ansiosa para terminar a trilogia. Amei os personagens, são inteligentes e com conteúdo ;)

    Andy_Mon Petit POison

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  8. olá, eu queria saber como é que se pronuncia o sobrenome da June, Iparis. Obrigada.

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