terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Resenha - Mil e Quinhentos: O Ano do Desaparecimento de Alan Oliveira


Este livro foi gentilmente cedido como cortesia pela Editora Gaivota - selo da Editora Biruta, e que possui um catálogo voltado para o público infanto-juvenil. Eu estava com grandes expectativas para o livro, mas após terminar a leitura, minhas expectativas não foram alcançadas, e talvez minha opinião final do livro não seja tão animadora.


O livro possui um começo espetacular. Os portugueses estão no litoral brasileiro, um grupo na verdade, esperando que navios retornassem e os levassem de volta para Portugal. No entanto, um ataque indígena da tribo dos tupinambá cai sobre o grupo de portugueses, e quase nenhum consegue se salvar... e entre os indígenas há um... europeu. - é uma espécie de prólogo que te prende já no início da leitura.

"Admirava o céu de maio e suspirava saudoso quando a primeira flecha o atingiu no peito. Ajoelhou-se dominado pela dor e sussurrou o nome de Jesus, antes que a segunda se cravasse pouco acima do queixo e o derrubasse sobre as chamas que antes o aqueciam."
Página 5 

Então a narrativa dá uns passos para trás no tempo e conhecemos os dois irmãos Scalfi, órfãos, Bruno e Rafael, que viajam a esmo por toda a Europa, após um passado trágico ter caído sobre a família. Como rapazes ainda jovens e ingênuos, ao saberem que Pedro Álvares Cabral está indo em direção às Índias com uma grande frota para firmar comércio entre as duas nações, os irmãos Scalfi não perdem tempo e tentam arranjar um jeito de fazer parte da tripulação de uma das naus. Então eles conhecem o jovem francês Jean Marc, um rapaz um tanto estranho e malandro, que guia eles pelo caminho fácil até á tripulação. Logo os três se tornam grumetes, ajudantes do que for preciso nos navios em alto-mar.

"- Deixa - Bruno disse, segurando o irmão pelo braço e ajudando-o a se levantar do banco. Rafael olhou inconformado para o prato ainda cheio e agarrou um pedaço de pão antes de sair. bruno estendeu a mão e ficou olhando para os estalajadeiro.
- Que foi? - o homem fez-se de desentendido.
- Nosso dinheiro..." 
Página 13 

Só que no percurso a frota de Pedro acaba se perdendo - "se perdendo" - e eles acabam em uma terra estranha, onde nativos, selvagens, índios surgem para saudá-los. Bruno não pôde sair do navio por estar ferido após uma briga com homens violentos da tripulação, mas Rafael e Jean - agora um ajudante de um astrólogo - pisam no que viria a ser Brasil e comemoram juntos com o resto dos homens que viajaram pelo mar revolto e furioso. Então Pedro decide retornar com sua frota para continuar sua viajem até as Índias, com uma mensagem enviada até Portugal sobre as novas descobertas... só que Rafael desapareceu, e seu irmão Bruno chora por perder a única pessoa que o mantinha ligado á família.

"Finalmente, na manhã de 25 de abril de 1500, o almirante Pedro Álvares Cabral, vestindo suas melhores roupas e seguido pelo corpo de oficiais, decide colocar os pés nas terras novas."
Página 47 

Alan Oliveira tinha uma grande história em mãos e a deixou escapulir de forma muito rápida, perdendo o controle de todo o enredo da obra. O autor estava consolidando uma ótima história no começo, e na metade ele começou a acelerar a narrativa, se esquecendo de alguns personagens, e caindo em pequenos clichês, que sinceramente, chegam a impedir a leitura e fazendo com que perca ainda mais o ritmo. Não quero dizer que a obra é ruim, mas a ideia era muito boa - juntar ficção com fatos históricos - e o autor não soube tirar proveito de tudo o que tinha.

"Jean Marc, que se ocupava em reorganizar os equipamentos de Antero Gusmão no pequeno espaço sob o leme, deixou o que estava fazendo e seguiu o cozinheiro."
Página 58 

Foi o que aconteceu no livro A Ilha Perdida de Maria José Dupré, um ótimo livro, mas que peca ao contar sobre a história de dois irmãos que se perdem e se separam em uma estranha ilha, e frisar em apenas um deles, esquecendo o outro. Mil e Quinhentos cometeu o mesmo. Rafael simplesmente desaparece da metade do livro pro final, e apenas no último capítulo surge de forma muito mal explicada, sobre suas escolhas e decisões.

"- Meu filho! Meu filho!
- Ananias!
- Você voltou!... Deus seja louvado!... Você voltou!..."
Página 75 

Talvez a explicação para toda essa decadência da história seja o pequeno número de páginas que o livro possui - cerca de 100 no mínimo. Alan poderia ter explorado ainda mais seu enredo criativo, criando mais personagens e se aprofundando em toda a história. Mas infelizmente, foi o contrário.

"- São portugueses?
O velho índio apurou os olhos e tentou identificar as cores da bandeiras que tremulava no alto do mastro.
- Não. É um navio francês.
- Quando desembarcarem serão franceses mortos."
Página 86 

A leitura foi divertida, leve e simples, apesar de eu ter esperado muito mais. O trabalho gráfico da editora, como sempre, está impecável, e a diagramação muito bem feita. Algumas páginas dos livros são embelezadas com ilustrações feitas por Jean-Baptiste Debret e Hans Staden, e tornam o livro um pouco mais aventureiro. Ao final da obra você poderá encontrar um glossário e uma linha do tempo dos acontecimentos mais importantes que ocorreram em 1500 e nos anos posteriores.

"Antes mesmo que os planos do comerciante fossem colocados em prática, tiveram o primeiro contato com os indígenas."
Página 91 

Por último digo que a obra poderia ser reescrita, é claro. O autor, Alan Oliveira, tem talento e eu acredito que ele ainda vai longe, e espero ler mais outros livros dele.

OBS - O livro deveria se chamar Mil e Quinhentos - O Ano do DESCOBRIMENTO ao invés de Mil e Quinhentos - O Ano do DESAPARECIMENTO... Mas acho que isso foi um trocadilho intencional do autor, e que de uma ótica, caiu bem.

***

2 pensamentos!

Ficha do Livro:

Título: Mil e Quinhentos - O Ano do Desaparecimento
Autor: Alan Oliveira
Editora: Gaivota, um selo da Editora Biruta
Páginas: 126


Um comentário:

  1. Olá, Joshua;
    Tudo bom?

    Puxa, que pena que você não gostou tanto assim do livro. Obras que misturam ficção com fatos reais são assim mesmo: ou agradam muito, ou desagradam totalmente!
    Mas ficamos felizes que você tenha exposto a sua opinião! Sabemos que sempre podemos contar com a sinceridade em suas resenhas.

    Já que você gosta de escrever, já visitou a nossa seção Autor da Vez no blog das Editoras Biruta e Gaivota? Corre lá, e deixe a sua história.

    Beijos Biruta!
    www.blogbirutagaivota.com.br

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