terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Resenha - Cordeluna de Élia Barceló


Cortesia da Editora Biruta, Cordeluna, da autora espanhola, Élia Barceló, foi lançado em 2011 aqui no Brasil, e antes, a obra já havia recebido o Prêmio Edebé de Literatura Juvenil. Trata-se de um romance medieval que junta passado e presente, amor e ódio, combinando de forma extraordinária história e fantasia, com elementos que tornam a narrativa e enredo mais belos. Cordeluna é apaixonante.


"- Parece que dom Rodrigo planeja atacar Alcocer. Então terás o que procuras. Alcocer é dominada pelo rei mouro de Valência, e não creio que deixem tomar a praça sem luta. Se conseguirmos, teremos honra e fortuna.
- E mulheres - sorriu Laín." 
Página 31 

Não consigo conter expectativas. Quando li a sinopse de Cordeluna, fiquei um tanto interessado, motivo por ser um romance medieval, e desde A Guerra dos Tronos de George R.R. Martin, o cenário da Idade Média se tornou algo fantástico para mim. Mas como eu pensava que Cordeluna era um romance medieval para um público mais jovem, fiquei um pouco receoso de não encontrar uma narração mais madura ou instigante. Mas então solicitei o livro para tirar minhas conclusões, e digo que em todo o tempo em que eu imergia nas palavras de Barceló, eu gostava mais e mais da história que ela havia criado com tanto cuidado.

"Atrás do edifício, árvores muito altas e flexíveis, balançadas pela brisa, ocultavam parcialmente uma colina. Quando desceram do micro-ônibus, o calor os fez abrir a boca como peixes tirados da água."
Página 35 

É um livro juvenil, mas reconheço que possui uma linguagem muito acima de sua classificação - que tanto recebeu um prêmio de literatura juvenil. - A narrativa da autora é muito bem detalhada, e sem dar muitos rodeios ou se prender a pequenos detalhes do cotidiano. A linguagem é direta, e os fatos ocorrem de forma rápida. Tem seu lado positivo e negativo, mas nada a reclamar, pois isso só ocorre com mais frequência no tempo passado, onde há grandes pulos no tempo, o que acho necessário. E falando da linguagem e do tempo passado no livro, a autora, creio eu, fez um grande estudo para se aprofundar na vida da Idade Média. Temos algumas descrições do armamento dos soldados daquela época, e podemos perceber que nos diálogos dos personagens, existe muitos verbetes antigos, e algumas conjugações que alguns leitores podem achar estranhas, mas eu logo me acostumei, e acho muito legal a autora usar uma linguagem mais rebuscada, com um cuidado para deixar os leitores mais íntimos ao cotidiano em que a história se passava.

"- Era exatamente isso que estava me preocupando, que estejas interessado unicamente nesses dias de prazer com a mulher que desejas. Ou melhor, nessas noites... estou enganado?"
Página 103 

Cordeluna possui duas histórias, paralelas, digo assim. No passado, o soldado Sancho Ramírez toma a decisão de seguir seu senhor ao desterro, após o Rei Alfonso exilar Dom Rodrigo sob a acusação de roubo de bens que pertenciam à coroa real. Antes de partir de Castela junto ao seu suserano, o pai de Sancho lhe entrega uma espada que passou de geração em geração pela família, de primogênito à primogênito. Uma espada diferente, com origens incertas, mas que Sancho, com a benção de seu pai, recebe. O nome da espada se chama Cordeluna, que significa Coração da Lua. Sancho então parte junto ao seu senhor em terra de mouros - muçulmanos, inimigos dos cristãos naquela época - participando de batalhas ferrenhas e lutas sangrentas, até que, retornando à seu país de origem, conhece a jovem donzela Guiomar, uma dama. Logo eles se apaixonam, mas como pertencem à classes diferentes, é um amor proibido.

"Sérgio estava pálido e sentia os músculos tremendo. Seu cérebro dava voltas e mais voltas pensando no que poderia dizer quando Bernadino lhe perguntasse diante de todos que verdades eram essas."
Páginas 144 

No presente, Glória, uma jovem garota que está viajando para uma temporada onde participará de aulas de teatro, para enfim, gravar um filme sobre a Idade Média, junta com outros jovens selecionados em toda a Espanha. Lá conhece Sérgio, e o primeiro contato dos dois é algo inesperado. Glória fica confusa, se o que sente é amor ou alguma confusão interior.

"A porta se abriu sozinha, a condessa percorreu o longo corredor orientando-se pela luz que brilhava no compartimento dos fundos e, ao afastar a cortina, deu de cara com os olhos do feiticeiro, que brilhavam com luz própria."
Página 177 

As duas histórias estão interligadas de alguma forma, e enquanto a narrativa pula de passado para presente, e de presente para passado, alternando a cada capítulo, começamos a perceber as semelhanças e as situações bem parecidas, como personagens e certos fatos. E mesmo assim, a autora soube conduzir de forma encantadora todo o mistério por trás das origens de Cordeluna, o que me fez lembrar um pouco a espada Excalibur das Lendas do Rei Artur.

"- Para tudo há uma saída, pequena. Tem fé."
Página 197 

A leitura deste livro é leve e rápida, e as 300 páginas passam rapidamente. Não vai ser uma experiência extraordinária, mas encantadora, pois Élia Barceló quis passar a mensagem, mesmo com elementos da fantasia, sobre o amor verdadeiro, e que mesmo sofrendo maldições milenares, pode resistir ao tempo.

"Com um derradeiro abraço, Sancho montou e saiu a galope. As lágrimas o impediram de ver o caminho até o anoitecer."
Página 230 

Os personagens são bem explorados, e cada um tem sua personalidade e ajudam de alguma forma ao longo do livro. No presente, Sibila, uma garota que tem certos dons e que tem visões ao dormir e pressentimentos ao chegar perto de elementos de alguma forma misteriosos. Andrés, um garoto cético e que meio que acredita apenas em seu tamanho e força. No passado, Laín, um combatente que se torna amigo de Sancho em meio as batalhas em que participam. Régula, a serva de Guiomar, que ajuda a sua patroa em seus encontros com seu amor proibido. Mas neste romance há também antagonistas, como Dona Brianda, uma mulher obsessiva, viúva, e que quer Sancho Ramírez de qualquer jeito ao seu lado lhe dando amor. O Mestre Ludovico, um feiticeiro negro e que serve a seres maléficos muito antigos, e que fará qualquer coisa pra vencer o poder por trás de Cordeluna. Novamente no presente, temos apenas a professora Bárbara como antagonista, que sente uma inexplicável inimizade por Glória quanto a Sérgio.

"- No seu há um "S" gravado. No meu, um "G". São de compromisso, se você aceita. Se me aceitais, minha senhora."
Página 297 

O final amarra todas as pontas soltas do livro, e é satisfatório. Recomendo, mas aviso que é apenas uma leitura boa de se ler e que não é extraordinária. Eu gostei realmente, e Cordeluna apenas me fez mais apaixonado ainda pelos romances medievais!

***

4 pensamentos! Por ser um romance medieval muito bem escrito...

Ficha do Livro:

Título: Cordeluna (Cordeluna)
Autora: Élia Barceló
Tradução por: Catarina Meloni
Editora: Biruta
Número de Páginas: 301

3 comentários:

  1. Nossa, eu nunca ouvi falar desse livro, mas me pareceu interessantíssimo. A capa é linda mesmo. Achei a sinopse interessante e eu gostaria de conhecer o trabalho da editora.

    Abraços.

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    Respostas
    1. Eu também nunca ouvi falar do livro, kk, mas o livro é um pequena surpresa. Tentei solicitar um exemplar pra resenha, mas a editora não permitiu :/

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  2. Uau! Sério que você só tem 14 anos?! Você escreve incrivelmente bem! Estou impressionada! Já até add seu blog ao meus favoritos, pra poder voltar mais vezes. Eu amei esse livro, eu até chorei, mesmo sabendo que o Sancho e a Guiomar não ficariam juntos, eu chorei horrores, foi muito linda e triste a história deles.

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