terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Resenha - Allegiant de Veronica Roth

ESTA RESENHA ESTÁ LIVRE DE SPOILERS DOS LIVROS ANTERIORES, divergente E insurgente


Após os eventos de Insurgente, Veronica Roth finalmente chega ao desfecho de sua trilogia distópica que arrebatou tantos leitores atualmente e já se tornou um best-seller de peso. Neste terceiro e último volume, descobrimos muito mais do que pensávamos saber, principalmente o que é ser Divergente, além de nos emocionarmos com o poderoso final.


""Who are you?" I demand.
"We are the Allegiant," the voice replies. "And we are many, yet we are no one..." 

É difícil falar de Allegiant, do mesmo jeito que foi difícil para mim falar sobre A Esperança de Suzanne Collins. O sentimento de finitude é palpável aqui, pois sabemos que a medida que as páginas vão virando, mais ainda vamos nos aproximando do final da série, e enfim saberemos como tudo o que a autora teceu nos dois primeiros livros irá se concluir. Isso acontece com qualquer leitor ao se deparar com o ÚLTIMO LIVRO, pois é isso o que ele é, aquele frio na barriga, aquela percepção de que quando seus olhos se encontrarem com a última frase, tudo "acabou". Chega a ser dramático falar isso, e talvez até bobo, mas a ficha só cai quando começamos a ler o livro, pois até então, ficamos empolgados com o lançamento do terceiro livro e tudo mais, e nos esquecemos de que um final satisfatório ou desgostoso nos espera.

Veronica Roth construiu uma personagem que considero uma das que marcaram a literatura jovem, Beatrice Prior, ou simplesmente Tris, aquela garota que nasceu numa família monótona da Abnegação, e que aos dezesseis anos teve que enfrentar o Teste de Aptidão e a Cerimônia da Escolha, e entender que o caminho que ela decidiria dali para frente, definiria o seu futuro para sempre. O sistema das facções imposto a sociedade da cidade de Chicago, mesmo que funcionasse, mostrou-se medonho, e aos poucos que Tris foi descobrindo mais desse mundo, e nós, leitores, juntamente com ela, vamos nos apegando à sua personalidade, torcemos por ela, partilhamos a sua tristeza, já que a guerra entre as facções não demora a chegar... Tris não possui muitos atributos que a tornam uma "garota durona", mas ela teve que aprender o mais rápido possível a enfrentar os seus medos, tanto aqueles psicológicos, quanto aqueles físicos, e ainda explorar seu amor com Quatro.

"He is part of me, always will be, and I am a part of him, too. I don't belong to Abnegation, or Dauntless, or even the Divergent. I don't belong to the Bureau or the experiment or the fringe. I belong to the people I love, and they belong to me - they, and the love and loyalty I give them, form my identify far more than any word or group ever could."

Allegiant em relação aos dois primeiros livros, Divergente e Insurgente, é mais lento. Enquanto Divergente era uma introdução a esse estranho mundo distópico, e apresentava o sistema das facções, os testes e a situação política, os personagens e etc, e Insurgente era mais acelerado e tinha um enfoque maior na guerra e nas escolhas precipitadas, Allegiant vem para dar uma falsa sensação de calmaria, ao mesmo tempo em que Roth explica e esclarece o que levou ao mundo ser como é, respondendo as perguntas dos leitores, e nos entregando argumentos interessantes e inteligentes. E como eu disse, essas falsa sensação de calmaria também não tarda a se quebrar, já que Tris e Quatro parecem sempre estar em movimento, fugindo, correndo, atirando, saltando de trens, e ainda, tomando decisões difíceis e que trazem um leque de consequências. E aqui há uma dinâmica, já que a narração em primeira pessoa que antes apenas pertencia à Tris, agora se alterna entre Quatro, nos mostrando um outro lado, talvez mais sombrio ou mais irracional.

Mas quanto mais absorvemos as informações técnicas sobre as facções, sobre Chicago, sobre a própria Divergência - que aqui ganha um significado maior, no final, ao olhos de Tris - temos a noção de que o livro caminha em uma corda bamba, instável, tanto para o leitor quanto para os personagens, e o final se mostra um tanto cruel até, mesmo que a autora tenha dado pistas durante toda a série, e tentado deixar expostos os significados por trás deste universo distópico. É uma guerra, e hoje em dia a literatura de ficção passa por uma nova etapa: os leitores clamam por mais realismo, mais lógica, mais consequências sem aquele toque de fantasia e aqueles comentários de "muita mentira isso", mas quando um autor decide tomar coragem e dar esse toque de realidade aos seus livros, fica aquela pergunta se isso é o melhor a fazer, se foi necessário, ou poderia ter sido evitado - e se tivesse sido evitado, se isso seria o certo.

"Can I be forgiven for all I've done to get here?
I want to be.
I can.
I believe it." 

Mesmo com todos os poréns, mesmo com todas as reviravoltas, as baixas durante a série, as decisões dos personagens... Allegiant pode ser um desfecho digno para a história de Tris e Quatro. Vou ser sincero. Não caio de amores por esse livro, pois fiquei bastante irritado em certas partes, frustrado, triste, mas também temos que deixar o nosso lado crítico de lado e tentar entender o que há na essência do enredo, e no que tanto a Veronica Roth falou após o lançamento do livro, em um artigo em seu blog pessoal, comentando sobre o final. É chocante, impactante, e talvez muitos nem darão bola daqui uns dias, e haverá ainda aqueles que vão se lembrar para sempre da série. Digam o que quiser, eu sempre terei um amor pessoal por Divergente, pelo o que Roth escreveu e ensinou. Poderia ser diferente? Poderia, mas é o mesmo que falamos para a vida, que nem sempre nos agradará.

Agora o que resta, é reter tudo aquilo de bom que conseguimos pegar da história, e fica o quote abaixo de reflexão:

"Since I was young, I have always know this: Life damages us, every one. We can't escape that damage.
But now, I am also learning this: We can be mended. We mend each other" 

***

OBS: No Brasil, Allegiant recebe o título Convergente, por motivos de que a tradução literal não combinaria com os títulos dos livros anteriores, ficando Divergente-Insurgente-Convergente. Durante um tempo a informação e a escolha da Rocco - que se deu através de uma enquete durante a Bienal do Rio de 2013 - gerou uma pequena polêmica, mas os leitores e os fãs já se acostumaram. O livro tem previsão de lançamento para 10 de março desse ano.

Ficha do Livro:

Título: Allegiant (#3)
Autora: Veronica Roth
Editora: Katherine Tegen Books
Páginas: 544
Gênero: Distopia, Ação, Ficção
Lançamento: 2013

4 comentários:

  1. Acho que já disse anteriormente o quanto tenho interesse nesse livro, por isso acho desnecessário repetir isso. Mas claro que é muito bom saber que, apesar de tudo, o livro foi um bom encerramento pra essa série que aparenta ser muito especial. Acho que um final marcante, seja ele positivo ou não, é essencial para tornar a série eterna, o que aparenta ser o caso. Só espero, mais uma vez, ter a oportunidade de ler o quanto antes.

    Abraços,
    Ricardo - www.overshockblog.com.br

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    1. Leia, porque é uma série que irá agradar, pois ela não possui aqueles "mi-mi-mis" dos YAs atuais, e é uma história bem madura. Leia :D

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  2. Bom, eu já falei o que achei do livro hehehe mas concordo com seus pontos. Eu achei o final bastante corajoso, não sei o que eu pensaria se não tivesse o spoiler. Mas Allegiant é mesmo mais fraco, eu esperava um tiquinho mais. Mas acho que a Veronica Roth ainda está aprendendo, se ela se propor a escrever uma nova série, ou mesmo novos livros, acho que ela vai arrasar. Ela domina muito a arte de desenvolver personagens, eu adoro tudo o que ela fez com a Tris, só acho que falta dominar mais a arte de amarrar o enredo.

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    1. O jeito que ela construiu a Tris, é extraordinário, acho que se não fosse por ela, uma personagem tão forte, a série não teria o mesmo "boom!" que tem hoje. Eu amo, amo mesmo Divergente, e espero ler outros livros da Roth!

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